Platão e Sócrates em uma pintura medieval
O caráter comunitário da Paideia (educação) grega imprimiu-se em cada
membro, sendo fonte da ação e do comportamento. A estrutura social
assentava nas leis e normas, escritas ou não, unindo a si e a seus
membros, sendo a educação o resultado da consciência viva de uma norma
cuja finalidade era a formação de um elevado tipo de homem (forma ideal
do Belo e do Bom guerreiro), representando, assim, o sentido de todo o
esforço humano (e isso justifica a comunidade e a individualidade).
Desse modelo ideal aristocrático ao ideal democrático, importantes
alterações foram feitas: antes eram os poetas que através dos mitos
transmitiam os valores que deveriam ser imitados pelo povo grego. Mas,
com a assembleia, surge a necessidade de se falar em público e o bem
falar era a pretensão sofística. A democracia, como governo do povo,
ainda exigia dirigentes eleitos e os sofistas trabalhavam em prol
daqueles que almejavam os cargos estatais. A palavra ganha destaque. Nas
assembleias, os retóricos conseguem persuadir com sua eloquência,
detendo o poder para a realização dos seus interesses.
Esse ensino foi feito de forma privada e particular, tendo a virtude
como aptidão intelectual voltada para os negócios públicos. No entanto,
ensinar a falar não era suficiente para aprender uma ciência. Logo, o
modelo sofístico foi desmascarado como a produção de discursos ilusórios
que pretendem convencer por convencer e não pela verdade. É onde entra a
figura de Sócrates como educador.
A partir do questionamento da essência do homem, a qual foi
identificada com a alma (razão, consciência e personalidade intelectual e
moral), o conhecimento da virtude teve de ser reformulado: virtude ou
excelência é aquilo que torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é ou a
atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada coisa, fazendo-a ser
aquilo que deve ser (a virtude do cavalo = velocidade, a virtude do cão =
disciplina, a virtude do soldado = temperança e coragem, etc.). Há,
pois, uma inversão de valores. Enquanto os sofistas pregam a
imediaticidade, a fama, a glória, a honra como valores externos a serem
alcançados; a visão socrática busca o conhecimento, a técnica, a ética,
como valores internos a serem realizados.
É assim que se compreende o que quer dizer a noção de que o erro é
involuntário. É impossível conhecer o Bem e não fazê-lo. A noção de
autarquia promovida pela virtude significa o autodomínio da
racionalidade sobre a animalidade e a felicidade seria a harmonia e a
ordem interior no homem que aprendeu a controlar os seus impulsos. A
violência e os desejos são ímpios e devem ser educados.
Seguindo os passos de seu mestre, Platão desenvolveu a postura de
Sócrates retomando o mito como expressão de fé e crenças racionalizadas.
Para ele, o mito procura clarificação no lógos e este busca complementação no mito.
Com a razão no limite, cabe ao mito superar intuitivamente esses
limites, elevando o espírito a uma tensão transcendente. É dessa forma
que as causas últimas que garantem o conhecimento são as Ideias (ou
Formas), que são o paradigma da discursividade e do entendimento. O
conhecimento é Anamnese, isto é, rememoração, lembrança que explica a possibilidade da ciência enquanto condiciona essa possibilidade à presença de uma intuição originária do verdadeiro na alma. É por isso que se faz necessário o uso da dialética para
verificar a relação entre opinião e ciência, já que há uma hierarquia
que depende da ascensão e descensão da busca, isto é, o momento de se
pensar e o momento de se fabricar discursos segundo os modelos ideais. A
arte é distanciamento da verdade, pois é cópia do verdadeiro. Por isso,
Platão também faz um certo uso da retórica a fim de superar as opiniões
horizontais.
É por isso que somente o amor é capaz de
fazer esse caminho. Ele vai do alógico, do irracional, do sensível e
desejante até o racional, lógico e inteligível, promovendo a compreensão
da essência das coisas que por isso mesmo tornam-se belas. É também
assim que a educação no Estado ideal consegue realizar o conceito de Justiça, que é o fim da vida política.
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